23 de agosto de 2010

Devastação controlável


A Região Nordeste corre grande risco de virar deserto.

A colunista ressalta que o país se descuida com a caatinga.


Um balanço da Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (Icid+18) aponta a consolidação do bioma Caatinga na agenda internacional conduzida pela Organização das Nações Unidas.
As conferências, os debates e as informações difundidas no evento com duração de uma semana serviram, também, para um confronto sobre os avanços conseguidos nas questões da natureza e o infinito de problemas ainda pendentes.
De todo modo, não deixam de ser significativas as proposições incorporadas ao documento final da cúpula do meio ambiente, de modo especial, a ideia de formação de uma parceria entre os países dotados de grandes regiões semiáridas no Planeta.
A aliança, comprometendo os líderes governamentais engajados no esforço pelo desenvolvimento dessas áreas, visaria à geração de meios para a sobrevivência das populações submetidas às severas mudanças climáticas previstas para os próximos anos, com sinais antecipados visíveis.
Um estudo do Ministério do Meio Ambiente, difundido na Conferência, mostrou a devastação do semiárido brasileiro, da ordem de 0,4% de sua área, a cada ano. Como 11% do território nacional são constituídos por terras áridas, a destruição ganha proporções preocupantes.
Para os especialistas da Embrapa, há necessidade de se identificar quais são os reflexos causados do bioma Caatinga, seus fatores característicos, com baixos teores naturais, baixa capacidade de retenção de água e aumento dos efeitos da entropia nesses sistemas.
O processo de degradação das terras secas alcança mais de 20 milhões de hectares, 62%dos quais classificados como situados em intenso desmonte ambiental. O Ceará integra os núcleos mais afetados com Irauçuba; Pernambuco, com Cabrobó; o Piauí, com Gilbués; e o Rio Grande do Norte, com o Seridó. A reversão desse processo exige mudanças comportamentais, investimentos públicos constantes e modificação nos sistemas produtivos, a partir da recuperação dos solos.
A convenção internacional do clima, entre muitos ganhos, antecipou as preocupações dos especialistas com o futuro próximo. Para a comunidade científica, os efeitos das mudanças climáticas, embora afetem todas as regiões do mundo, serão mais graves nas terras áridas e semiáridas por atingirem a produção.
Com certeza, elas irão alimentar conflitos, aumentar os fluxos migratórios e provocar novas enfermidades.
O Ceará comprovou, na prática, como intervir nesse universo de incertezas. O Estado expôs uma proposta de formulação do Fundo Estadual de Combate à Desertificação, para congregar recursos de variadas fontes destinados a financiar ações no seu território, quase totalmente dominado pela aridez.
O certame internacional revelou perspectivas sombrias para o meio ambiente, começando pelas transformações ditadas pelo clima. Entretanto, a presença dos organismos multilaterais e das agências internacionais de financiamento sugere o emprego de recursos tecnológicos já desenvolvidos para mudar as feições das terras calcinadas. Agora, os governantes, a academia e os especialistas precisam colocar em prática as soluções para atenuar o agravamento das secas.

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